sábado, 5 de novembro de 2011

Identidades engessadas

"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo."
Clarice Lispector
Quantas vezes por dia é capaz de permitir o auto questionamento?
Consegue estabelecer um diálogo interno?
Ou se sente completamente dono de toda razão ou princípio?
Conhecer ou reconhecer a própria identidade é um exercício que exige honestidade e mente flexível.
Mas entenda-se que um diálogo interior não pode submeter-se à enxurrada de pensamentos que, invariavelmente, invadem a mente.
Reserve poucos minutos de cada dia para que possa silenciar sua mente. Isso é importantíssimo, afinal uma mente conturbada e inundada em pensamentos pode irromper emoções angustiantes.
À medida que você consegue coordenar esse processo mental, será capaz de quebrar paradigmas e ganha a oportunidade de novos aprendizados e idéias.
Obviamente, nem sempre é fácil esse desengessamento mental e emocional. Mas tudo que nos propusermos a realizar, insistindo como prática cotidiana, torna-se facilmente realizável.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

VALORES - imposições e escolhas

Houve uma época na qual os educados senhores abriam a porta de seus carros para que a dama pudesse entrar. Os homens eram gentis.
Houve época na qual os gentis senhores levantavam-se da cadeira, assim que sua dama chegasse ou saísse da mesa. Os homens eram polidos.
Houve um momento, na história do ser humano, na qual a polidez era característica primordial da espécie.
Naquela época se falava: “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, “como vai”, “tenha um belo dia”, “prazer em conhecê-lo(a)”, “por favor”, “obrigado”.
Naquela época também as damas sabiam ser valorizadas por sua graciosidade e discrição.
Também nessa época, a sexualidade era algo exclusivamente pertencente àquela pessoa, sem necessidade de propagandas ou alusões à promiscuidade.
Obviamente, mesmo naquela e em tantas outras épocas, havia a deselegância, a desonestidade e todo tipo de atitude associada ao caráter individual.
Entretanto, o pior cenário contemporâneo não é a encenação de tantos atos insanos e de tanta ausência de honradez.
Vai além. Pior do que isso é a normalização e a banalização da moral e da ética.
Heráclito de Éfeso ( s VI – V a.C. ) definia o caráter como “o conjunto definido de traços comportamentais e afetivos de um indivíduo, persistentes o bastante para determinar o seu destino”.
Assim, quando a tônica social legitima e minimiza os desvios de caráter, estabelece uma nova configuração dos valores éticos e morais do indivíduo ou da sociedade.
O caráter individual fica reprimido diante dessa nova moral social.
Chega-se em uma época em que ser correto, honesto ou elegante é motivo de chacota.
Nessa época, o gentil cavalheiro, ainda tentando resgatar uma identidade de outrora, pode ser um “otário” diante de outras pessoas, assim como a dama que ainda tenta manter a tradição e o aprendizado familiar.
Hoje, há exclamações de espanto quando alguém devolve uma mala de dinheiro encontrada ao acaso. Mas, em contrapartida, já não há o mesmo espanto quando o indivíduo se apropria do dinheiro alheio.
Inversão dos valores?
A sociedade impõe regras que nem sempre são digeríveis.
Houve uma época em que os pais sabiam o que era melhor para seus filhos. Hoje, tudo que foi aprendido como forma de educação naqueles tempos tenta ser descaracterizado e classificado como inadequado.
Inadequado??
Moral da história?
Acabou a moral e a ética na sociedade atual?
O caráter individual ainda consegue prevalecer diante deste caos?
A sociedade ou os controladores sociais ainda nos permitem pensar?
Até quando pensaremos que realmente pensamos?
Até quando seremos detentores dos próprios sentimentos e emoções?
Até onde você conseguirá fazer questionamentos dentro do contexto atual?
E para finalizar: em que época você vive ou sobrevive?
Por sinal, não se trata de um texto deselegante ou ranzinza, mas, sobretudo, uma réstia de apego ao que vale a pena.
Como disse Clarice Lispector:
- “Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão. Tranquilidade e inconstância, pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono. Música alta e silêncio. Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. Não me limito, não sou cruel comigo! Serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer… Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. Ou toca, ou não toca.”


sexta-feira, 22 de julho de 2011

Arte Emocional

A lira, instrumento musical de cordas, foi bastante utilizada pelos gregos para acompanhar versos poéticos de forma melodiosa.
Desde o século IV a.C os poemas pequenos, através dos quais os poetas manifestavam sentimentos, tornaram-se conhecidos como poesias líricas, graças à melodia das liras.
Assim, observa-se que o lirismo está associado diretamente à sonoridade da música e do canto. Na literatura é possível notar que as poesias líricas apresentam uma sonoridade peculiar, propiciando ao leitor SENTIMENTOS e EMOÇÕES de forma maravilhosa.
Na música lírica também é assim, manifestando emoções irrefreáveis. É a tônica do lirismo, que poderia ser designado como a ARTE EMOCIONAL.
O lírico pode ser um excelente representativo de estado de ALMA, simbolizando o “eu” e suas experiências e expectativas diante da vida.
Enfim, quem vive a intensidade dos sentimentos consegue identificar-se com as poesias e músicas líricas.
Deleite-se nos versos abaixo e, depois, permita-se viajar na melodia da música.

 Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...
Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...
Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!

Mário Quintana




domingo, 26 de junho de 2011

Sopram ventos


"Às vezes ouço o vento passar;
E só de ouvir o vento passar,
Vale a pena ter nascido"
                                      Fernando Pessoa

Um fazendeiro possuía terras em uma região muito fértil, porém sujeita a tempestades terríveis. Ele constantemente anunciava estar precisando de empregados, mas a maioria das pessoas estava pouco disposta a trabalhar em fazendas daquela região, pois temiam as horrorosas tempestades que faziam estragos nas construções e nas plantações.
Procurando por novos empregados, ele recebeu muitas recusas. Finalmente, um homem baixo e magro, de meia-idade, se aproximou do fazendeiro.
- Você é um bom lavrador? Perguntou o fazendeiro.
- Bem, eu posso dormir enquanto os ventos sopram. -respondeu o pequenino homem.
Embora confuso com a resposta, o fazendeiro, desesperado por ajuda, o empregou. O pequeno homem trabalhou bem ao redor da fazenda, mantendo-se ocupado do alvorecer até o anoitecer e o fazendeiro estava satisfeito com o trabalho do empregado.
Então, uma noite, o vento uivou ruidosamente. O fazendeiro pulou da cama, agarrou um lampião e correu até o alojamento dos empregados. Sacudiu o pequeno homem e gritou:
- Levanta! Uma tempestade está chegando! Amarre as coisas antes que sejam arrastadas!
O pequeno homem virou-se na cama e disse firmemente:
- Não senhor. Eu lhe falei, eu posso dormir enquanto os ventos sopram.
Enfurecido pela resposta, o fazendeiro estava tentado a despedi-lo imediatamente. Em vez disso, ele se apressou a sair e preparar o terreno para a tempestade. Do empregado, trataria depois.
Mas, para seu assombro, ele descobriu que todos os montes de feno tinham sido cobertos com lonas firmemente presas ao solo. As vacas estavam bem protegidas no celeiro, os frangos nos viveiros, e todas as portas muito bem travadas. As janelas bem fechadas e seguras. Tudo foi amarrado. Nada poderia ser arrastado.
O fazendeiro então entendeu o que seu empregado quis dizer, então retornou para sua cama para também dormir enquanto o vento soprava.

Quando se está preparado, fisica, mental e espiritualmente, você não tem nada a temer.


Eu lhe pergunto: você pode dormir enquanto os ventos sopram em sua vida?




sexta-feira, 10 de junho de 2011

A conquista do Segredo

Um dos maiores segredos não é tão dificilmente desvendável, embora seja procurado ou desejado por todos os seres humanos.

Quem ainda não foi questionado por alguém, provavelmente já fez em algum momento esse autoquestionamento.


Afinal, qual é o segredo para a Felicidade?

Creio que a felicidade seja algo bastante simples.

Alguns são capazes de encontrar o segredo da felicidade em um despertar pela manhã, pelo simples fato de estar diante de mais um dia cheio de novas oportunidades de aprendizagem e evolução pessoal.

Outros conseguem a felicidade no delicioso cheiro de um café recém-feito, acompanhado de um pedaço de pão ou bolo, sentado confortavelmente, sem qualquer pressa, apenas para deliciar cada nota de cheiro ou sabor.

Ou ainda na beleza das flores, principalmente com seu perfume exalado na evaporação do orvalho.

Outros sentem que a felicidade é poder viver um grande amor ou ainda ter uma família unida, com sentimentos de paz, harmonia e companheirismo.

Muitos acham que o segredo da felicidade é fama, fortuna e status. Os monges budistas acreditam que o segredo da felicidade está na simplicidade material.

A maior dificuldade que o ser humano tem em entender o segredo da felicidade é sua própria rigidez emocional. Acredita que a felicidade é um imutável estado de sentir-se.

Não se pode contar somente com o prazer ou alegria para a conquista da felicidade, pois os momentos antagônicos também fazem parte deste caminho, já que possibilitam o aprendizado.

Algumas pessoas sentem-se infelizes porque vivem sozinhas e abandonadas. Mas porque não utilizar-se de tal sorte para um crescimento e conhecimento de sua força interior.

Se você se julga uma pessoa infeliz e azarada permite que seus pensamentos fiquem mergulhados em um pântano de negativismo e pessimismo. Perde a capacidade e o desejo de sonhar.

O que você faz com tudo ou o pouco que tem é a diferença para o segredo de sua felicidade.

Enfim, o que pode te fazer feliz é o equilíbrio entre o desejo, o sonho e sua conquista.

Como disse o grande Mario Quintana, "a felicidade é um sentimento tão simples, que você pode deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade"

domingo, 5 de junho de 2011

Quais são suas pegadas

“Erva daninha

Cresce sem limites,

Sufoca a natureza,

Expande seus domínios.


Animal dominante,

Ganancioso e imoral.

Perde-se na irracionalidade,

Segue em frente, fatal.


Mácula da natureza

De pegadas enraizadas.

Ser humano indefinível

Entre praga ou indefectível

Achaque do planeta.”


Em 05 de junho de 1972, nada menos do que há 39 anos, a Organização das Nações Unidas promovia um encontro para debater as questões ambientais que já afligiam o planeta. Determinou-se, assim, que essa data seria reconhecida como “Dia Mundial do Meio ambiente”.

Cada vez mais, desde então, tem se falado sobre os desmatamentos; poluição das águas, do ar e do solo, extinção de espécies vegetais e animais e todo tipo de problemas relacionados à biodiversidade.

Mas, infelizmente, após 39 anos decorridos desde aquela conferência, nada melhorou. O que se observa é a destruição cada vez maior da natureza.

O ser humano deixa suas pegadas enraizadas na alma de Gaia.

E você? Faz a diferença? Quais são suas pegadas?


quarta-feira, 25 de maio de 2011

K9, apenas mais uma estatística

Exatamente há 9 anos, no dia 25 de maio de 2002, instituía-se no Brasil a data comemorativa como Dia da Adoção. Mas comemora-se exatamente o que??
Porque crianças são retiradas da família e tornam-se alvo de adoção?

Subentende-se que toda criança nascida de um ventre que lhe proporciona o amor e cuidados necessários, além do fato óbvio de viver em um lar estruturado, jamais será retirado desse ambiente e colocado em abrigos esperando uma adoção.
Mas, infelizmente, estamos falando de um contexto de abandono, negligência e violência ( física, psicólogica e sexual ).
Um dos problemas é que se tira a criança desse lar desestruturado e a encaixa em abrigos que também não têm estrutura adequada para lidar com o problema.
Abrigos deveriam ter obrigatoriamente uma equipe de profissionais técnicos para elaborar os traumas psíquicos dessa criança. Mas não é a realidade.
São apenas “tios” que ali trabalham, mesmo que bem intencionados, como a coordenar verdadeiros albergues infantis.
Então quando observamos uma estatística oficial que demonstra que apenas 14% das crianças abrigadas está “apta” a ser adotada, surge a pergunta inevitável: quanto a burocracia ainda vai atrapalhar a felicidade destas crianças? Isso posto que a tentativa de reintegração ao ambiente familiar biológico acaba consumindo meses ou anos. Enquanto isso a criança vive no abrigo e começa a adquirir características de qualquer pessoa institucionalizada.
Dificilmente a criança abrigada terá condições de retornar ao seu lar, já que, na maior parte dos casos, a violência a qual foi submetida é uma situação irreversível. E até que a justiça determine qual será o caminho dessa criança, já estará fora dos “padrões desejados” por promissores pais adotivos.
Uma criança abrigada, que possa ser adotada, tem que ser, obrigatoriamente, filha de uma família que a ame, que cuide e eduque. Que ofereça todo o afeto necessário. Que demonstre respeito por sua individualidade enquanto ser.
E um pensamento angustiante: e as crianças que nunca serão adotadas? que fim terão? De que forma esse futuro adulto conseguirá encarar o mundo?
Uma adoção não se impõe, visto que a fragilidade destas crianças é muito grande. Assim, o casal deve estar disposto a amá-la incondicionalmente.
Sem dúvida, uma adoção concretizada pode ser o início de uma história de felicidade. Uma adoção pode permitir a essa criança reescrever sua história.

Deveríamos comemorar o respeito, o amor, a doação incondicional de afeto.

K, uma menina de 9 anos. Sobrevivente de uma família desestruturada, com mãe negligente e pai alcoólatra. Irmã mais velha de quatro.


“quando eu deitava para dormir, papai vinha mexer comigo”

A mãe?....... sempre soube.

“agora nós estamos vivendo nesse lugar, cheio de outras crianças”

O Estado diz que protege.


Protege de que? Protege de quem?

K, apenas 9 anos.

Vive a pensar em homens. Olhar sedutor.

Mexe com todos os meninos. Instiga.

Corpo de criança.

Mente de criança.

Desejos de mulher.

K, menina confusa

Impulsiva, atrevida.

E o Estado a protegeu de que forma?

Evitou o estrago?

Então surge a pergunta inevitável.

A quem se engana com criação de leis?

A lei que proíbe a mão da palmada,

Protege a criança da mão que bulina?

Protege a criança da negligência?

De que forma?

K, 9, apenas mais uma nas estatísticas

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Jaha, quase nada mudou em um século

Jaha, uma moça de 20 anos, jovem negra, no auge da saúde física e mental. Já casada, com 2 pequeninos filhos.
Foi contratada para trabalhar como empregada doméstica, o que lhe causara felicidade, afinal precisava cooperar com o marido nas finanças de casa.
Logo nos primeiros dias já pôde sentir, na pele, o que seria trabalhar naquele lugar.

“minha patroa não deixava eu comer na mesa. Tinha que comer em um quartinho, sentada no chão. Ela mesma fazia o prato para eu comer. Eram os restos deixados nos pratos dos patrões.”

“minha patroa fazia escovar todo o carpete da casa com uma escova de dente.”

“um dia ela disse que só tinha me contratado porque minha raça é forte e aguenta serviço”

“minha patroa queria que, todos os dias, eu esfregasse o quintal e a calçada com um escovão e cloro puro. Ela nunca me deu luvas. O cheiro era forte demais e chegava sair lágrimas dos olhos. Eu esfregava o chão até sangrar entre os dedos.”

“ela colocava veneno no quintal para matar os ratos e depois fazia eu pegar com as próprias mãos o rato para jogar fora.”

Jaha sofria cada dia de martírio de forma calada. A patroa a ameaçava: “olha, se você contar qualquer coisa para alguém, vou te perseguir, vou te fazer coisas horríveis”
Assim, Jaha prosseguiu em seu calvário durante 3 meses. Nunca relatou seu sofrimento ao marido ou à sua família.
Mas um dia, após chegar em casa do trabalho, estava no tanque lavando as roupas da família e chorando, pois já não aguentava mais essa situação. Suas mãos doíam e sangravam facilmente, pois a pele estava fina demais pela ação do cloro e da escova. Nesse momento sua mãe chegou para visitá-la e acabou descobrindo. Jaha não suportava mais esconder o que acontecia e contou tudo.
Jaha já não trabalha mais nesse lugar. O que restou? A dor física das mãos dilaceradas pela ação do cloro? As dores dos joelhos inchados por passar parte do dia esfregando o chão? A dor no estômago vazio pela fome que passava? O nojo de pegar ratos com as próprias mãos?
Não, tudo isso já não tem tanto peso. O que restou foi uma alma destruída, ferida profundamente.

Uma dor física jamais poderá ser comparada à dor emocional.

Hoje, Jaha precisa de ajuda psicológica e psiquiátrica. Chora copiosamente, sente tristeza e angústia. Foi muito machucada em sua dignidade de ser humano.
Sente medo e se esconde dentro de casa. Ainda acredita que a ex-patroa poderá lhe fazer algum mal.
Mas Jaha seguirá em frente. Vai renovar sua auto-estima e fortalecer a auto-confiança.
Jaha quer voltar a ser feliz.

Exatamente há 123 anos, no dia 13 de maio de 1888, era assinada a Lei Àurea, que abolia a escravidão no Brasil. Mas como sempre, as leis podem funcionar muito bem nos papéis e, na prática nem sempre funcionam.
Passado mais de um século do fim oficializado da escravatura ainda é possível notar que uma grande parte dos negros sofre consequências de uma época em que eram tratados de forma tão degradante.
Uma lei jamais será capaz de determinar sentimentos. Uma lei não consegue impor à cor da pele do indivíduo a forma que deve pensar a respeito de outros.
Os negros eram considerados sem alma, sem sentimentos. Eram tratados pior do que animais.
A história de Jaha é capaz de demonstrar que a abolição está inacabada. Os 123 anos ainda são insuficientes para acabar com preconceitos e racismos.
Muitas pessoas, em pleno 2011, ainda associam a cor da pele à capacidade do indivíduo. Ainda são capazes de ignorar qualquer tipo de sentimento ou emoção individuais.
Enfim, não bastam leis antiescravatura ou anti-racismo. É necessário que o ser humano compreenda que a cor de pele não o torna mais inteligente ou menos. A cor da pele não o torna mais ou menos importante. Seja negro, pardo, branco, amarelo, cinza, ou qualquer outra cor, terá sentimentos dentro de si.





segunda-feira, 9 de maio de 2011

A miséria de cada um

Hoje escutei essa frase: “meu trabalho permite que veja a miséria emocional de muitos”



Essa frase permite reflexões importantes acerca de nossas emoções.

Se você é ser humano já sentiu medo, raiva, vergonha, tristeza, alegria, angústia em alguns momentos de sua existência.

Obviamente, todos nos sujeitamos à dinâmica da vida, que nos conduz entre circunstâncias variadas no cotidiano.

Cada um reage a essas circunstâncias conforme aprendeu desde a infância, como parte de um aprendizado e formação de personalidade.

Alguns sofrem mais que outros, mesmo diante de situações semelhantes.

Mas o que difere?

Sem dúvida, a importância que damos a uma situação faz a diferença em nossas manifestações emocionais.

Administrar as emoções é saber determinar o valor de cada circunstância.

Se fizer de todo fato cotidiano uma dificuldade ou tempestade maior do que deveria, com certeza sofrerá, mais do que precisa.

Inegável que, em algumas ocasiões, nossas respostas emocionais serão proporcionalmente valiosas, como um verdadeiro mecanismo de defesa, permitindo-nos a sobrevivência.

Muitas vezes, o limite entre sanidade e adoecimento é tão tênue que mesmo quem sofre esse processo psíquico não se atenta para o fato.

Assim, o sofrimento emocional inicia sua trajetória contumaz, determinando a miséria particular de cada ser humano.

Cada um sabe a dor que sente e tem convicção de que é a pior possível a um ser humano.

A sua dor é a maior de todas, até que tropece no calo emocional de alguém e descubra que a dor é sempre algo individual.

Dor, seja física ou emocional, sempre será algo tão particular e impalpável quanto saber definir.

Enfim, a possibilidade do contato com o sofrimento alheio sempre nos possibilitará saber que, muito além de nossas misérias emocionais, há outras piores.

domingo, 1 de maio de 2011

Caminhada

Apenas mais uma reflexão.....


O que te leva mais distante?

As pernas ou a mente?


Nas nuvens que povoam os céus de nossa mente,

Formam-se sonhos das mais variadas formas.

Nessa vastidão mental,

Permita que seus sonhos conduzam seu corpo.





quarta-feira, 27 de abril de 2011

A metamorfose da vida

Impressionante a quantidade de pessoas que vivem frustradas e insatisfeitas nos mais variados contextos de sua vida. Não conseguem agir ou proporcionar qualquer mudança. Vivem dia após dia como coadjuvantes da própria vida, com sentimentos amargos e emoções perdidas em lacunas. Sofrem, angustiam-se, adoecem.


As mudanças, muitas vezes, não são algo tão longe ou impossível. Mas falta coragem de encarar uma realidade que pode ser muito dolorosa, ou seja, ter que valorizar mais de si mesmo. A realidade de erguer os olhos, encarar o horizonte e acreditar.

 

 "Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses"

Rubem Alves

sábado, 23 de abril de 2011

Ser irresoluto


"Ser apenas mais um

Entre tantos de si.

Ser apenas mais um

Entre tantos circundantes.



Eternamente irresoluto,

Ser o destoante ser!

Incongruentes desejos

De insânia inquietude.



Aturdido em consumismos,

Perde-se em devaneios:

Entre o essencial

E o querer



Ahh! Energúmeno ser

Embasbacado

Entre poder

E pudor."





"Sempre que tiveres dúvidas, ou quando o teu eu te pesar em excesso, experimenta o seguinte recurso: lembra-te do rosto do homem mais pobre e mais desamparado que alguma vez tenhas visto e pergunta-te se o passo que pretendes dar lhe vai ser de alguma utilidade. Poderá ganhar alguma coisa com isso? Fará com que recupere o controle da sua vida e do seu destino? Por outras palavras, conduzirá à autonomia espiritual e física dos milhões de pessoas que morrem de fome? Verás, então, como as tuas dúvidas e o teu eu se desvanecem."


Gandhi

Portinari - "criança morta"



quarta-feira, 20 de abril de 2011

A arte de Viver


Amanheceu um dia lindo, o sol brilhava e iluminava o jardim cheio de flores, cada qual mais imponente e perfumada que a outra. Começava, enfim, a primavera.
Havia rosas desabrochando, papoulas excitadas, jasmins que balançavam ao vento, margaridas em grupos, violetas excêntricas.

O jardim mais parecia uma festa à luz do dia.

Todos que ali passavam admiravam a riqueza daquele instante, a profundidade daquele momento e podiam sentir aquele aroma que trazia paz.
O colorido era maravilhoso, rosas vermelhas, margaridas amarelas, violetas roxas....tudo perfeito, tudo completo.

A grama completava aquele cenário irretocável e os raios de sol pousavam para emoldurar aquele momento.

Chegou então o jardineiro, para dar amor e carinho àquelas flores, fazendo o seu serviço em silêncio.
Podou, regou, plantou novas sementes, quando de repente percebeu que era observado por alguém que lhe disse:

- Que belo jardim, você é um artista, conseguir manter assim tudo perfeito, é uma arte.

Ele então respondeu:

- ...mas não está tudo perfeito! Olhe ali no centro do jardim, está vendo aquela orquídea? Ela está triste, ela está chorando, ela está sofrendo muito.

- Mas você consegue enxergar isso? Eu não estou conseguindo perceber, ela me parece tão linda!

- Você não consegue perceber, porque a beleza que ela traz por fora esconde a tristeza que ela carrega por dentro, mas eu posso perceber, porque os meus olhos, moram no meu coração e é só por isso que sou um artista.

Conservar a beleza de um jardim, não é ser artista, ser artista é perceber, entender, aceitar e sentir a tristeza de uma única flor que se esconde no meio de tantas.

Arte não se aprende na escola, não obstante possa ser aprimorada em determinados cursos. Ser artista não se restringe a pintar telas com traços perfeitos, cantar com voz afinada ( ou não, em alguns casos ), escrever livros com pensamentos filosóficos ou encenar algum papel nos palcos. Arte envolve principalmente sensibilidade, paixão, um desempenho extraordinário e único naquilo que você se dispõe a fazer, o que, convenhamos, está aquém de rótulos e aprendizados. Ser artista é saber lidar com substratos, muitas vezes impalpáveis. Ser artista é saber lidar com seus próprios sentimentos e emoções, saber cultivar seus jardins emocionais. Ser artista é ver a criação ou a existência daquilo que se propõe com o melhor de si mesmo.

E você? Quanto tem se desempenhado na arte de viver?