quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Mentes inquietas


 
 
"É sabido que comboios completos de pensamento atravessam instantaneamente as nossas cabeças, na forma de certos sentimentos, sem tradução para a linguagem humana, menos ainda para uma linguagem literária... porque muitos dos nossos sentimentos, quando traduzidos numa linguagem simples, parecem completamente sem sentido. Essa é a razão pela qual eles nunca chegam a entrar no mundo, no entanto toda a gente os tem."


Fiodor Dostoievski -- Uma Anedota Sórdida

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A coragem de sair da caverna

Platão - Mito da Caverna


Sócrates – Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.
Glauco – Estou vendo.
Sócrates – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que os transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.
Glauco - Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.
Sócrates - Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e de seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte?
Glauco - Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?
Sócrates - E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?
Glauco - Sem dúvida.
Sócrates - Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?
Glauco - É bem possível.
Sócrates - E se a parede do fundo da prisão provocasse eco sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?
Glauco - Sim, por Zeus!
Sócrates - Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados?
Glauco - Assim terá de ser.
Sócrates - Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?
Glauco - Muito mais verdadeiras.
Sócrates - E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?
Glauco - Com toda a certeza.
Sócrates - E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras?
Glauco - Não o conseguirá, pelo menos de início.
Sócrates - Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sol e sua luz.
Glauco - Sem dúvida.
Sócrates - Por fim, suponho eu, será o sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar tal qual é.
Glauco - Necessariamente.
Sócrates - Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.
Glauco - É evidente que chegará a essa conclusão.
Sócrates - Ora, lembrando-se de sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles que foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?
Glauco - Sim, com certeza, Sócrates.
Sócrates - E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensas para aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um simples lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?
Glauco - Sou de tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.
Sócrates - Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: Não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol?
Glauco - Por certo que sim.
Sócrates - E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-se à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?
Glauco - Sem nenhuma dúvida.
Sócrates - Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que dissemos atrás e comparar o mundo que nos cerca com a vida da prisão na caverna, e a luz do fogo que a ilumina com a força do Sol. Quanto à subida à região superior e à contemplação dos seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma para a mansão inteligível, não te enganarás quanto à minha idéia, visto que também tu desejas conhecê-la. Só Deus sabe se ela é verdadeira. Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundo inteligível, a idéia do bem é a última a ser apreendida, e com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de tudo o que de reto e belo existe em todas as coisas; no mundo visível, ela engendrou a luz; no mundo inteligível, é ela que é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e é preciso vê-la para se comportar com sabedoria na vida particular e na vida pública.
Glauco - Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê-la.
(Platão, A República, v. II p. 105 a 109)

Sair da caverna e assumir riscos requer coragem e motivação

domingo, 27 de setembro de 2009

Inquietanças



"Que há atrás dessa porta?
Não chames, não perguntes, ninguém responderá,
nada pode abri-la,
nem a gazua da curiosidade
nem a pequena chave da razão
nem o martelo da impaciência.
Não fales, não perguntes,
aproxima-te, encosta a orelha:
- não ouves a respiração?
Lá do outro lado,
como tu alguém pergunta:
- que há atrás dessa porta?"


Octávio Paz -- 'Antologia Poética'

sábado, 26 de setembro de 2009

As janelas da alma




Os sentimentos normalmente são externalizados por emoções que se transformam em lentes que filtram os acontecimentos, dando-lhes cor e conotação próprias.
De acordo com a estrutura e o momento psicológico, os fatos passam a ter significação que nem sempre correspondem à realidade.
Quem se utiliza de óculos escuros, mesmo diante da claridade solar, passa a ver o dia com menor intensidade de luz.
Na área do relacionamento humano as ocorrências também assumem contornos de acordo com o estado de alma das pessoas envolvidas.
Portanto, a necessidade de conduzir os sentimentos e as emoções, de modo a equilibrar os fatos em relação a eles depende essencialmente da maneira como cada indivíduo saiba lidar com determinadas circunstâncias.
Uma atitude sensata é um abrir de janelas na alma, a fim de observar bem os sucessos da caminhada humana.
De acordo com a dimensão e o tipo de abertura, será possível observar a vida e vivê-la de forma agradável, mesmo nos momentos mais difíceis.
           Há quem abra janelas na alma para deixar que se externem as impressões negativas, facultando o uso das lentes escuras, que a tudo sombreiam com o toque pessimista de censura e de reclamação.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Ser o Não Ser



Para viver a vida que você quer, você deve ser quem você é. Isso pode soar como um bonito jogo de palavras, mas pense a respeito.

Você pensa seus próprios pensamentos? Você sonha seus próprios sonhos? Você determina suas próprias metas? Ou você os pega emprestados de outros? Ter mais e mais do que você não quer realmente não lhe trará felicidade.

A vida que você deseja não está em seguir os sonhos de outros, a idéia de outros sobre o melhor lugar para viver ou a idéia de outros sobre o melhor carro para dirigir.

A verdadeira felicidade e realização requerem que você tenha coragem de ser você mesmo. Existe uma razão para você querer as coisas que você quer. É porque você é a pessoa melhor equipada para alcançá-las.

Quando você perseguir o que realmente deseja da vida, então estará satisfazendo seu conjunto de oportunidades, dando sua própria e especial contribuição, criando valores como só você pode fazer.

Seja você de verdade. Você e o mundo inteiro serão mais ricos com isso.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Olhos de quem vê

Faça a vida acontecer


 
 
A vida melhora imensamente quando você pára de deixar as coisas acontecerem e passa a fazer as coisas acontecerem. Em vez de ser uma vítima, seja alguém que faz. Em vez de procurar alguém para culpar, procure pelo que você pode fazer. Em vez de perguntar “Por que isso aconteceu comigo?”, pergunte “O que posso fazer?”

Estabeleça suas prioridades e concentre-se em seus objetivos. Nenhuma situação pode lhe derrotar quando você vive com determinação. As coisas que lhe acontecem têm uma importância menor do que tudo aquilo que você pode fazer a respeito.

Seu senso de direção, seu foco, seu comprometimento e sua ação eficaz guiarão você em qualquer situação, não importa o que aconteça.

Seja responsável – nos seus pensamentos, suas palavras, suas crenças, suas ações – pelas coisas que acontecem, e elas ficarão muito mais ao seu gosto. Faça a vida acontecer e ela acontecerá para você também.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Tempo


"Sempre que pensamos em mudar queremos tudo o mais rápido possível. Não tenha pressa pois as pequenas mudanças são as que mais importam. Por isso, não tenha medo de mudar lentamente, tenha medo de ficar parado."  

Povérbio Chinês




terça-feira, 22 de setembro de 2009

Impressões da vida



Um turista visitou uma catedral onde um artista trabalhava em um mosaico enorme. Uma vasta parede vazia estava à frente do artista e o turista perguntou:
-- Você não fica preocupado com todo este espaço que você precisa cobrir? Não se preocupa sobre quando conseguirá terminar?
O artista respondeu simplesmente:
-- Eu sei o que posso fazer a cada dia. A cada manhã, marco a área que farei e não me permito preocupar com o espaço que falta. Eu assumo um dia de cada vez e um dia o mosaico estará terminado. Muitos dos grandes obstáculos que atrasam o nosso momento são como esta grande parede. Nós podemos nos preocupar com o enorme quadro que temos que criar. Ou podemos simplesmente começar a enchê-lo com as imagens maravilhosas e únicas - a impressão de nossas vidas - fazendo o melhor que podemos a cada dia que nos é dado. E, no final, teremos montado o melhor quadro.
Onde você começa? O melhor lugar para começar é exatamente onde você está hoje.

domingo, 20 de setembro de 2009

A Arte de Viver




Nem sempre o progresso interior do ser humano (quando existe), é acompanhado por atitudes compatíveis com ele (progresso). Quando alguém evolui espiritual, intelectual ou psicologicamente nem sempre consegue ajustar a evolução à sua vida. É que já está de tal forma preso a formatos anteriores de personalidade com os quais aprendeu a ajustar-se e a defender-se na vida, que dificilmente abre mão de seus paradigmas. A vida de cada um de nós, na medida em que a consciência se amplia, estabelece um conflito entre a evolução e o que resiste a ela, por já ser molde de comportamento. Em geral esse “molde” ganha a luta. Mesmo que o leve para a estagnação ou para o “brejo”. Somente um processo de análise e de educação consegue ajustar a evolução à vida. Evoluir, crescer interiormente exige mudanças que a existência pede mas a vida nem sempre autoriza. Briga feia, esta....

Há períodos, porém, em que a evolução pode se desencadear com rapidez. Algum fato doloroso, perda, ou amadurecimento consciente e inconsciente, propiciam a revolução interna. Alcançar tal ponto pela evolução gradual e a coragem de existir como um novo ser (ou recuperar o verdadeiro ser antes guardado e escondido pelas defesas) é, mesmo, difícil. Porém muito mais complexo e doloroso é passar para a vida a evolução obtida. E fazê-la permanente.

Há pessoas que procuram, a qualquer descoberta ou novidade exteriores, logo incorporá-las à evolução interior. Mas a vida possui severas regras e leis. Se a passagem for brusca ressentir-se-á. No tropel da renovação desejada (e necessária) será jogado fora o que não era para tal. Adiante fará falta. A sofreguidão de transportar a evolução interna para a vida vivida, pode levar a erros e mudanças bruscas (e radicais) demais para perdurarem. Acontece freqüentemente.
O oposto também ocorre: evoluir, sem, contudo, transferir para a vida atitudes e modos de ser compatíveis com o que mudou e amadureceu. Aqui, o sofrimento é ingente. A vida impõe compromissos, alguns insuperáveis, injunções terríveis e graves. Como removê-las sem fortes danos? Ou sem machucar terceiros, quartos, quintos etc?
Possível, sim. Fácil, jamais. Doloroso, sempre, pois acompanhadas de perdas inevitáveis, irreparáveis e inerentes.

É, portanto, difícil, profundo, doloroso, o processo de compatibilizar a vida vivida com os rumos do desenvolvimento interior. Raro é adequar-se a vida à evolução. Talvez, seja até mais difícil do que evoluir. O trabalho interior para evoluir, crescer e amadurecer é sofrido e lento!

Ajustar, depois, a evolução à vida, poucos conseguem; só os fortes. Ou os sábios. E mesmo a evolução está carregada de recuos, erros e dúvidas. Viver é uma arte.



Artur da Távola

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Viva como as flores

Num mosteiro tibetano, um discípulo perguntou ao seu mestre:
Mestre, como faço para não me aborrecer?

Algumas pessoas falam demais,

outras são ignorantes.

Algumas são indiferentes.

Sinto ódio das que são mentirosas.

Sofro com as que caluniam.

Pois viva como as flores, advertiu o mestre.
Como é viver como as flores? Perguntou o discípulo.

Repare nestas flores, continuou o mestre,
apontando lírios que cresciam no jardim.

Elas nascem no esterco, entretanto,
são puras e perfumadas.

Extraem do adubo malcheiroso tudo que lhes é útil e saudável,
mas não permitem que o azedume da terra

manche o frescor de suas pétalas.

É justo angustiar-se com as próprias culpas,
mas não é sábio permitir
que os vícios dos outros o importunem.

Os defeitos deles são deles e não seus.

Se não são seus, não há razão para aborrecimento.

Exercite, pois,
a virtude de rejeitar todo mal que vem de fora.


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A Alma dos Diferentes



A Alma Dos Diferentes


"... Ah, o diferente, esse ser especial!

Diferente não é quem pretenda ser.
Esse é um imitador do que ainda
não foi imitado, nunca um ser diferente.

Diferente é quem foi dotado
de alguns mais e de alguns menos em hora,
momento e lugar errados para os outros.
Que riem de inveja de não serem assim.
E de medo de não agüentar,
caso um dia venham, a ser.

O diferente é um ser
sempre mais próximo da perfeição.
O diferente nunca é um chato.
Mas é sempre confundido
por pessoas menos sensíveis e avisadas.
Supondo encontrar um chato
onde está um diferente,
talentos são rechaçados; vitórias, adiadas;
esperanças, mortas.

Um diferente medroso, este sim,
acaba transformando-se num chato.
Chato é um diferente que não vingou.

Os diferentes muito inteligentes
percebem porque os outros não os entendem.
Os diferentes raivosos acabam
tendo razão sozinhos, contra o mundo inteiro.
Diferente que se preza entende
o porque de quem o agride.


Se o diferente se mediocrizar,
mergulhará no complexo de inferioridade.
O diferente paga sempre o preço de estar
- mesmo sem querer - alterando algo,
ameaçando rebanhos, carneiros e pastores.

O diferente suporta e digere
a ira do irremediavelmente igual:
a inveja do comum; o ódio do mediano.
O verdadeiro diferente sabe que nunca
tem razão, mas que está sempre certo.

O diferente começa a sofrer cedo,
já no primário, onde os demais de mãos dadas,
e até mesmo alguns adultos por omissão,
se unem para transformar o que é
peculiaridade e potencial em aleijão e caricatura.

O que é percepção aguçada em:
"Puxa, fulano, como você é complicado".
O que é o embrião de um estilo próprio em :
"Você não está vendo como todo mundo faz? "

O diferente carrega desde cedo
apelidos e marcações os quais acaba incorporando.
Só os diferentes mais fortes
do que o mundo se transformaram
(e se transformam)
nos seus grandes modificadores.

Diferente é o que vê mais longe
do que o consenso.
O que sente antes mesmo
dos demais começarem a perceber.

Diferente é o que se emociona enquanto
todos em torno agridem e gargalham.
É o que engorda mais um pouco;
chora onde outros xingam;
estuda onde outros burram.
Quer onde outros cansam.
Espera de onde já não vem.
Sonha entre realistas.

Concretiza entre sonhadores.
Fala de leite em reunião de bêbados.
Cria onde o hábito rotiniza.
Sofre onde os outros ganham.

Diferente é o que fica
doendo onde a alegria impera.
Aceita empregos que ninguém supõe.
Perde horas em coisas
que só ele sabe ser importantes.
Engorda onde não deve.
Diz sempre na hora de calar.
Cala nas horas erradas.
Não desiste de lutar pela harmonia.
Fala de amor no meio da guerra.
Deixa o adversário fazer o gol,
porque gosta mais de jogar do que de ganhar.

Ele aprendeu a superar riso,
deboche, escárnio, e consciência dolorosa
de que a média é má porque é igual.
Os diferentes aí estão:
enfermos, paralíticos, machucados,
engordados, magros demais,
inteligentes em excesso, bons demais
para aquele cargo, excepcionais, narigudos,
barrigudos, joelhudos, de pé grande,
de roupas erradas, cheios de espinhas,
de mumunha, de malícia ou de baba.
Aí estão, doendo e doendo,
mas procurando ser, conseguindo ser,
sendo muito mais.

A alma dos diferentes
é feita de uma luz além.
Sua estrela tem moradas deslumbrantes
que eles guardam para os pouco capazes de
os sentir e entender.

Nessas moradas
estão tesouros da ternura humana.
De que só os diferentes são capazes.
Não mexa com o amor de um diferente.
A menos que você seja suficientemente
forte para suportá-lo depois."

Artur da Tavola

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Escada da vida



Há muitas pessoas que têm o hábito de se preocupar constantemente. E essa preocupação incessante, muitas vezes, domina todos os segundos de seu dia.

Quase nunca estão livres de um ou de muitos

problemas, de uma ou de várias doenças.

O excesso de preocupações transparece no rosto.

Deixa as pessoas como que hipnotizadas ou petrificadas,

com dificuldade para sorrir, relaxar, aproveitar a vida.

A preocupação com elas próprias e com o que têm

a esclarecer é tão grande que não lhes sobra

tempo para viver.

Só falam de si, só lhes interessa o que

se passa com elas e acabam ensimesmadas.


Mas, afinal, em que direção devemos caminhar?

Para quem fazemos as coisas?

Como nos comportamos quando os

esforços que empreendemos parecem em vão?

A diferença entre as pessoas reside na maneira como se deixam tocar pelosacontecimentos.

Como podemos lidar com as frustrações e o que aprendemos a partir destas experiências vividas.