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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO



“Minha mão está suja. Preciso cortá-la. Não adianta lavar. A água está podre. Nem ensaboar. O sabão é ruim. A mão está suja, suja há muitos anos.....Ai, quantas noites no fundo da casa lavei essa mão, poli-a, escovei-a... ..”(DRUMMOND – A Mão Suja).

Algum tipo de “mania” a maioria de nós tem. Algumas podem ser até engraçadas. Os costumes e hábitos cotidianos muitas vezes tornam-se rituais tão automatizados, repetidos inconscientemente, que nem ao menos nos damos conta. Entretanto, quando você sente-se impelido (diria praticamente forçado) em qualquer lugar que esteja, a ter comportamentos, muitas vezes extravagantes, repetidas vezes, acompanhados de pensamentos contra os quais não consegue lutar, que não saem de sua mente, podemos estar diante de uma doença chamada Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Pensamentos Obsessivos são idéias ou imagens desagradáveis que aparecem de maneira repetitiva e que a você não consegue se livrar. São idéias “entronas”, que geram sofrimento, medo e angústia por não se conseguir tirá-las de si. Por sua vez, as Compulsões são padrões de comportamentos repetitivos, em geral “bobos”, impossíveis de se evitar, mesmo achando um absurdo. Há casos em que a pessoa ou alguém próximo tem que contar até determinado número (7; 33; 100) “para evitar um acontecimento”. Em outras situações verifica incansavelmente se deixou portas e janelas fechadas, se o fogão ou ferro de passar roupa estão desligados. Mesmo tendo constatado o fato, volta a fazer, ou repete várias vezes. Em outros casos, são comuns vários banhos ao dia ou lavar as mãos frequentemente (até mesmo com álcool) devido a pensamentos obsessivos de contaminação. Há o medo de sofrer de alguma doença contagiosa, ou de qualquer outra doença. E embora possa pensar o quão absurdo possam ser seus medos, não consegue deixar de se comportar de tal maneira, pois é algo mais forte que você. Os primeiros sintomas costumam aparecer na adolescência (20% podem iniciar na infância) e início da idade adulta (60% dos casos antes dos 25 anos), sendo ligeiramente mais freqüente em mulheres. Acomete em torno de 2 a 3% da população mundial. As causas de TOC são ainda desconhecidas, acreditando-se ser decorrente da combinação entre fatores genéticos, ambiente externo, situações de estresse e personalidade. Por essa complexidade, o tratamento deve ser feito através de medicamentos, dentre os quais antidepressivos, que podem corrigir o desequilíbrio neuroquímico cerebral e a psicoterapia atuando sobre os pensamentos distorcidos. É importante ressaltar que nem todos os nossos hábitos, costumes ou “manias” devam ser considerados como doença, pois só podemos falar em TOC, quando essas “manias” geram sofrimento e mal-estar, atrapalham a rotina da pessoa e de quem está próximo (em casa ou no trabalho). O maior problema, geralmente, é que o portador do TOC só procura ajuda, no momento em que a doença incomoda demais. Não assume facilmente o transtorno, deixando que a situação chegue ou ultrapasse os limites. Não é incomum ouvir: “mas eu só sou organizado, mas eu só consigo fazer assim...”, não vendo doença em seus atos.


Vale conferir o filme: “Melhor é impossível”

quarta-feira, 29 de abril de 2009

ESQUIZOFRENIA

“Mudos atalhos afora, na soturnidade de alta noite, eu e ela caminhávamos. Eu, no calabouço sinistro de uma dor absurda, como feras devorando entranhas, sentindo uma sensibilidade atroz morder-me, dilacerar-me. Ela, transfigurada por uma tremenda alienação, louca, rezando e soluçando baixinho rezas bárbaras. Eu e ela, ela e eu!- ambos alucinados, loucos, na sensação inédita de uma dor jamais experimentada.” (Cruz e Souza- Balada de Loucos*)
Quero falar um pouco sobre a Esquizofrenia, que é um distúrbio mental que acomete ao redor de 1% da população mundial, comprometendo a capacidade do indivíduo de se relacionar e produzir, tornando-o, muitas vezes, dependente de terceiros. Atinge em igual proporção homens e mulheres, manifestando-se, em geral, na adolescência ou início da idade adulta. O indivíduo pode viver em um “mundo particular”, fantasioso, sendo comum presença de delírios (crenças irreais não partilhadas por outras pessoas – exemplo: achar que está sendo perseguido, que é responsável pelas guerras do mundo) e alucinações (percepções irreais – ouvir, ver, saborear, cheirar e sentir), além do isolamento social, falta de iniciativa para tudo, apatia, indiferença emocional e, em alguns casos, o pensamento e o discurso desagregados (frases sem sentido). A pessoa pode afastar-se do convívio social por achar que outros querem lhe causar algum tipo de mal, e muitas vezes isso vem acompanhado de alucinações auditivas (vozes) que o difamam e confirmam as “más” intenções alheias. Pode também haver a sensação de que seus pensamentos ou sua vontade estão sendo controlados por uma “força inexplicável”. Muitas vezes, as pessoas que convivem (familiares) tentam, sem sucesso, explicar a esse indivíduo que os fatos não são reais, que fazem parte de sua imaginação, acabando por gerar conflitos e, por vezes, agressões, pois tudo que ele vive e experimenta no seu dia-a-dia é “muito real”.

Não é uma doença transmissível e, embora ainda sejam incertas suas causas, estudos sugerem a combinação de fatores genéticos aliados a fatores ambientais (teoria genética) e pessoais de alterações bioquímicas (teoria neurobiológica) intermediando o aparecimento e expressão da doença. Infelizmente, porém, o desconhecimento da sociedade acerca da doença gera situações embaraçosas e preconceituosas. Não são incomuns piadinhas denegrindo de forma sarcástica pessoas que sofrem desse distúrbio. Atualmente, felizmente, há medicamentos chamados antipsicóticos capazes de controlar ou reduzir os efeitos da doença, podendo o indivíduo ter um bom convívio familiar e social, sem motivos para vergonha, lembrando que essa doença não está associada a menos inteligência (basta cita o caso do matemático americano John Forbes Nash, que recebeu em 1994 o Prêmio Nobel de Economia e em 2001 teve biografia adaptada ao filme: “Uma Mente Brilhante”, que, aliás, vale conferir).



*Refere-se o poeta nesta balada a um episódio real que lhe aconteceu; ao voltar de um passeio com sua esposa, notou que ela subitamente estava enlouquecendo.