Exatamente há 9 anos, no dia 25 de maio de 2002, instituía-se no Brasil a data comemorativa como Dia da Adoção. Mas comemora-se exatamente o que??
Porque crianças são retiradas da família e tornam-se alvo de adoção?
Subentende-se que toda criança nascida de um ventre que lhe proporciona o amor e cuidados necessários, além do fato óbvio de viver em um lar estruturado, jamais será retirado desse ambiente e colocado em abrigos esperando uma adoção.
Mas, infelizmente, estamos falando de um contexto de abandono, negligência e violência ( física, psicólogica e sexual ).
Um dos problemas é que se tira a criança desse lar desestruturado e a encaixa em abrigos que também não têm estrutura adequada para lidar com o problema.
Abrigos deveriam ter obrigatoriamente uma equipe de profissionais técnicos para elaborar os traumas psíquicos dessa criança. Mas não é a realidade.
São apenas “tios” que ali trabalham, mesmo que bem intencionados, como a coordenar verdadeiros albergues infantis.
Então quando observamos uma estatística oficial que demonstra que apenas 14% das crianças abrigadas está “apta” a ser adotada, surge a pergunta inevitável: quanto a burocracia ainda vai atrapalhar a felicidade destas crianças? Isso posto que a tentativa de reintegração ao ambiente familiar biológico acaba consumindo meses ou anos. Enquanto isso a criança vive no abrigo e começa a adquirir características de qualquer pessoa institucionalizada.
Dificilmente a criança abrigada terá condições de retornar ao seu lar, já que, na maior parte dos casos, a violência a qual foi submetida é uma situação irreversível. E até que a justiça determine qual será o caminho dessa criança, já estará fora dos “padrões desejados” por promissores pais adotivos.
Uma criança abrigada, que possa ser adotada, tem que ser, obrigatoriamente, filha de uma família que a ame, que cuide e eduque. Que ofereça todo o afeto necessário. Que demonstre respeito por sua individualidade enquanto ser.
E um pensamento angustiante: e as crianças que nunca serão adotadas? que fim terão? De que forma esse futuro adulto conseguirá encarar o mundo?
Uma adoção não se impõe, visto que a fragilidade destas crianças é muito grande. Assim, o casal deve estar disposto a amá-la incondicionalmente.
Sem dúvida, uma adoção concretizada pode ser o início de uma história de felicidade. Uma adoção pode permitir a essa criança reescrever sua história.
Deveríamos comemorar o respeito, o amor, a doação incondicional de afeto.
K, uma menina de 9 anos. Sobrevivente de uma família desestruturada, com mãe negligente e pai alcoólatra. Irmã mais velha de quatro.
“quando eu deitava para dormir, papai vinha mexer comigo”
A mãe?....... sempre soube.
“agora nós estamos vivendo nesse lugar, cheio de outras crianças”
O Estado diz que protege.
Protege de que? Protege de quem?
K, apenas 9 anos.
Vive a pensar em homens. Olhar sedutor.
Mexe com todos os meninos. Instiga.
Corpo de criança.
Mente de criança.
Desejos de mulher.
K, menina confusa
Impulsiva, atrevida.
E o Estado a protegeu de que forma?
Evitou o estrago?
Então surge a pergunta inevitável.
A quem se engana com criação de leis?
A lei que proíbe a mão da palmada,
Protege a criança da mão que bulina?
Protege a criança da negligência?
De que forma?
K, 9, apenas mais uma nas estatísticas