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terça-feira, 1 de junho de 2010

Íntimos caminhos


"Somos quem não somos e a vida é pronta e triste. Quantos somos! Quantos nos enganamos! Que mares soam em nós... pelas praias que nos sentimos nos alagamentos da emoção!...Quem sabe sequer o que pensa ou o que deseja? Quem sabe o que é para si - mesmo?" (fragmento de LIVRO DO DESASSOSSEGO -1914- BERNARDO SOARES)



Bernardo Soares foi um tipo particular dentre os heterônimos do enigmático e extraordinário poeta português Fernando Pessoa. O que interessa na prosa fragmentária que Bernardo Soares desenvolve é a dramaticidade das reflexões humanas que vêm à tona, à beira do tédio, do trágico. Por essa razão, diversos fragmentos do livro são investigações íntimas das sensações provocadas pelo anonimato, pela cotidianeidade e todo o pragmatismo da vida comum. Estudiosos discutem por que Fernando Pessoa teria criado seus heterônimos. Seria esquizofrenia? Psicografia? Uma forma de expôr seus sentimentos? Distúrbio de Personalidade? De certo, sabemos que sua genialidade é grande demais para caber em um só poeta. Mas quero aproveitar  este pensamento, também "desassossegado", e questionar:

O que move o Homem? 
Qual sua razão existencial?
Qual o motor propulsor de sua vida?

Em geral colocamos no rosto uma máscara e somos outro aos olhos de quem nos olha. Mas, de súbito descobrimos que, por trás da máscara, não sabemos quem somos. Você, por algum momento, já refletiu sobre a sua importância? Quem é você? Ou prefere simplesmente viver, confortavelmente, sem questionamentos, nessa vida de gado (ouça a música “admirável gado novo”, de Zé Ramalho). Fazendo uma analogia à Mitologia da caverna, de Platão, você imagina-se conhecedor de tudo, enquanto, na verdade, busca conhecer minuciosamente cada parte (por menor que seja) de “sua caverna”, sem jamais vislumbrar seu exterior. Quando você passa a questionar, imaginam-no um excêntrico, um idiossincrático, um extravagante, quando não um rematado louco (destino comum à maior parte dos cientistas, inventores, e demais revolucionários do pensamento que, ao longo da história, ousaram ir além, ultrapassar os limites mesmo pagando alto preço pelo que a sociedade considera loucura).
Talvez a melhor tática seja se fazer criança. Afinal não é nada mal fazer perguntas. Muito pelo contrário, crianças costumam fazer muitas perguntas construtivas, profundas, que demonstram o quanto estão interessadas no assunto. Mostram que pensam por si mesmas, que não têm medo de desafiar velhos conceitos, velhos sistemas de crenças, antigos mitos, e que estão prontas para penetrar em territórios novos, avançar para novas fronteiras.



Parafraseando Fernando Pessoa: “não sei o que o amanhã trará, mas sei que posso e devo tentar fazê-lo diferente de tudo que poderia ser."

sábado, 31 de outubro de 2009

Caminhos e Atitudes da Vida


 
"Tudo quanto de desagradável nos sucede na vida - figuras ridículas que fazemos, maus gestos que temos, lapsos em que caímos de qualquer das vir­tudes - deve ser considerado como meros acidentes externos, impotentes para atingir a substância da alma. 
Tenhamo-los como dores de dentes, ou calos da vida, coisas que nos incomodam mas são externas ainda que nossas, ou que só tem que supor a nossa existência orgânica ou que preocupar-se o que há de vital em nós.
Quando atingimos esta atitude, que é, em outro modo, a dos místicos, estamos defendidos não só do mundo mas de nós mesmos, pois vencemos o que em nós é externo, é outrem, é o contrário de nós e por isso o nosso inimigo.
Disse Horácio, falando do varão justo, que ficaria impávido ainda que em torno dele ruísse o mundo. 
A imagem é absurda, justo o seu sentido. Ainda que em torno de nós rua o que fingimos que somos, porque coexistimos, devemos ficar impávidos - não porque sejamos justos, mas porque somos nós, e sermos nós é nada ter que ver com essas coisas externas que ruem, ainda que ruam sobre o que para elas somos.
A vida deve ser, para os melhores, um sonho que se recusa a confrontos."


Fernando Pessoa - O Livro do Desassossego

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Tempo de travessia



“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”

Fernando Pessoa

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Esta Velha

Fernando Pessoa e heterônimos

"Esta velha angústia,

Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...

Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer —
Júpiter, Jeová, a Humanidade —
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

Estala, coração de vidro pintado!"

Álvaro de Campos

domingo, 2 de agosto de 2009

Tenho tanto Sentimento



"Tenho tanto sentimento

Que é freqüente persuadir-me

De que sou sentimental,

Mas reconheço, ao medir-me,

Que tudo isso é pensamento,

Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,

Uma vida que é vivida

E outra vida que é pensada,

E a única vida que temos

É essa que é dividida

Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira

E qual errada, ninguém

Nos saberá explicar;

E vivemos de maneira

Que a vida que a gente tem

É a que tem que pensar."


Fernando Pessoa

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Dentro da mente


"Como é por dentro outra pessoa?

Quem é que o saberá sonhar?

A alma de outrem é outro universo

Com que não há comunicação possível, com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da almaSenão da nossa;

As dos outros são olhares, são gestos, são palavras, com a suposição de qualquer semelhança no fundo."



Fernando pessoa

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Qual é sua máscara?

"Do mesmo modo que os atores põem uma máscara, para que a vergonha não se reflita nos seus rostos, assim entro eu no teatro do mundo - emascarado."





René Descartes




A máscara
A primeira máscara da qual se tem registro está gravada na caverna labirinto de Trois Feres, em Ariege, nos Pirineus, descoberta em 20 de julho de 1914. A imagem rupestre do feiticeiro barbudo, cujas pernas são humanas e braços de urso, como um xamã antropozoomórfico, usava uma máscara de cervo, presidindo um ritual de cura e caça, associado à fertilidade.
O termo máscara tem origem controversa, pois para alguns procede do italiano maschera. Originalmente estaria relacionada ao baixo latim mediterrâneo masca, significando “demônio, bruxa ou feiticeira”. Para outros o termo introduziu-se na Itália a partir de invasões árabes, sendo corruptela de mashara, significando “personagem bufão”, derivado do verbo sahir, que quer dizer “ridicularizar”.
A função religiosa, na África, por exemplo, presidindo cerimônias de cultivo e semeadura, assim como ritos iniciáticos e funerários, conservando o sentido primordial: homem que envergue a máscara do crocodilo é o espírito do crocodilo - a máscara manifesta a divindade e transmite ao portador todo o seu poder. Essas máscaras não representavam faces normais, mas sim exageradas. Normalmente era de madeira, cobre ou marfim. Estes aspectos foram-se esquecendo paulatinamente em outras culturas.












Quando passa para o teatro, foi o espírito sagaz, de senso estético do grego, o principal responsável pela primeira grande transformação no uso das máscaras, inovando o teatro. Faziam, assim, tragédia e comédia reavivando a mitologia.
Há muitas máscaras, tantas quantas as ocasiões e os destinos. Da máscara anti-gás à usada pelo apicultor, da máscara em fotografia à de simples adorno, da máscara de oxigênio à de beleza, o seu uso é muito extenso no tempo e

no espaço.






De fato, todos vestimos personas, em um processo de auto-conhecimento, no exercício de revelar nosso ego. Isto porque, forçosamente, para estabelecermos contato com o mundo exterior, personificamos o que nem sempre corresponde à nossa real essência. Sob esse prisma, a persona encarna a metáfora da fixidez da máscara do ator, que no decorrer de sua encenação, desenvolve o papel que lhe cabe. Sob a máscara tudo se oculta - o Bem e o Mal. A máscara intermedia as relações humanas, funcionando, até certo ponto, como mecanismo de defesa. Tanto usam máscara o Zorro e o Super-man, como os ladrões e os terroristas. Realmente, todos usamos máscaras. Sorrimos quando nos dão uma bofetada, choramos para obtermos o que pretendemos, mostramos os “nossos mísseis” para paralisar de medo o “inimigo”, A máscara é uma arma que pode ser usada para defesa ou ataque.

A máscara da nossa própria cara, a PERSONA é a que a vida em sociedade exige.
"Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada.À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo (...)Quando quis tirar a máscara estava pegada à cara"
Fernando Pessoa

A Alma Humana


"A alma humana é um manicômio de caricaturas....
Se uma alma pudesse revelar-se com verdade e nem houvesse um pudor mais profundo que todas as vergonhas conhecidas, definidas seria, como dizem, da verdade o poço. Mas um poço sinistro, cheio de ecos vagos, habitado por vidas ignóbeis, viscosidades sem vida, lesmas sem ser. Ranho da subjetividade.
Eis a alma."

Fernando Pessoa

quarta-feira, 29 de abril de 2009

FELICIDADE

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

FERNANDO PESSOA

Pura inspiração







































Fernando Pessoa

Paisagens, quero-as comigo.

Paisagens, quero-as comigo. Paisagens, quadros que são... Ondular louro do trigo, Faróis de sóis que sigo, Céu mau, juncos, solidão...
Umas pela mão de Deus, Outras pelas mãos das fadas, Outras por acasos meus, Outras por lembranças dadas...
Paisagens... Recordações, Porque até o que se vê Com primeiras impressões Algures foi o que é, No ciclo das sensações.
Paisagens... Enfim, o teor Da que está aqui é a rua Onde ao sol bom do torpor Que na alma se me insinua Não vejo nada melhor.






Em busca da felicidade


Se há uma coisa da qual estamos convencidos agora, é que somos criaturas em busca de prazer que querem minimizar a dor e a frustração em nossas vidas. Nós somos criaturas que, talvez diferente de qualquer outro animal, buscam a felicidade. Mas felizmente, e infelizmente, a outra coisa que sabemos é que o prazer, como a felicidade, não é tão simples como gostaríamos que fosse.Discussões sobre o que torna uma vida boa, e se a virtude pode ser ensinada, são tão antigas quanto a investigação humana esclarecida. Mas precisamos ter alguma idéia do que a busca pela felicidade se trata; se a felicidade pode mudar uma pessoa e o que a frase muito apreciada, "faça alguém feliz", pode significar.
Se a pergunta original de Platão- foi "a virtude pode ser ensinada?", e ela se tornou "a felicidade pode ser ensinada?", nós poderíamos nos perguntar qual seria a diferença entre tentar tornar as pessoas boas e tentar torná-las felizes? Uma das diferenças mais óbvias é que ser bom nem sempre torna as pessoas felizes.
Os promotores da felicidade, por exemplo, freqüentemente subestimam quanta inveja a felicidade provoca, e quanto isto é um problema para os invejosos e invejados; a felicidade como um ideal se encaixa muito facilmente na crença contemporânea de que uma boa vida é simplesmente uma vida invejável.

"Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento. 
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo."

Fernando Pessoa