quarta-feira, 25 de maio de 2011

K9, apenas mais uma estatística

Exatamente há 9 anos, no dia 25 de maio de 2002, instituía-se no Brasil a data comemorativa como Dia da Adoção. Mas comemora-se exatamente o que??
Porque crianças são retiradas da família e tornam-se alvo de adoção?

Subentende-se que toda criança nascida de um ventre que lhe proporciona o amor e cuidados necessários, além do fato óbvio de viver em um lar estruturado, jamais será retirado desse ambiente e colocado em abrigos esperando uma adoção.
Mas, infelizmente, estamos falando de um contexto de abandono, negligência e violência ( física, psicólogica e sexual ).
Um dos problemas é que se tira a criança desse lar desestruturado e a encaixa em abrigos que também não têm estrutura adequada para lidar com o problema.
Abrigos deveriam ter obrigatoriamente uma equipe de profissionais técnicos para elaborar os traumas psíquicos dessa criança. Mas não é a realidade.
São apenas “tios” que ali trabalham, mesmo que bem intencionados, como a coordenar verdadeiros albergues infantis.
Então quando observamos uma estatística oficial que demonstra que apenas 14% das crianças abrigadas está “apta” a ser adotada, surge a pergunta inevitável: quanto a burocracia ainda vai atrapalhar a felicidade destas crianças? Isso posto que a tentativa de reintegração ao ambiente familiar biológico acaba consumindo meses ou anos. Enquanto isso a criança vive no abrigo e começa a adquirir características de qualquer pessoa institucionalizada.
Dificilmente a criança abrigada terá condições de retornar ao seu lar, já que, na maior parte dos casos, a violência a qual foi submetida é uma situação irreversível. E até que a justiça determine qual será o caminho dessa criança, já estará fora dos “padrões desejados” por promissores pais adotivos.
Uma criança abrigada, que possa ser adotada, tem que ser, obrigatoriamente, filha de uma família que a ame, que cuide e eduque. Que ofereça todo o afeto necessário. Que demonstre respeito por sua individualidade enquanto ser.
E um pensamento angustiante: e as crianças que nunca serão adotadas? que fim terão? De que forma esse futuro adulto conseguirá encarar o mundo?
Uma adoção não se impõe, visto que a fragilidade destas crianças é muito grande. Assim, o casal deve estar disposto a amá-la incondicionalmente.
Sem dúvida, uma adoção concretizada pode ser o início de uma história de felicidade. Uma adoção pode permitir a essa criança reescrever sua história.

Deveríamos comemorar o respeito, o amor, a doação incondicional de afeto.

K, uma menina de 9 anos. Sobrevivente de uma família desestruturada, com mãe negligente e pai alcoólatra. Irmã mais velha de quatro.


“quando eu deitava para dormir, papai vinha mexer comigo”

A mãe?....... sempre soube.

“agora nós estamos vivendo nesse lugar, cheio de outras crianças”

O Estado diz que protege.


Protege de que? Protege de quem?

K, apenas 9 anos.

Vive a pensar em homens. Olhar sedutor.

Mexe com todos os meninos. Instiga.

Corpo de criança.

Mente de criança.

Desejos de mulher.

K, menina confusa

Impulsiva, atrevida.

E o Estado a protegeu de que forma?

Evitou o estrago?

Então surge a pergunta inevitável.

A quem se engana com criação de leis?

A lei que proíbe a mão da palmada,

Protege a criança da mão que bulina?

Protege a criança da negligência?

De que forma?

K, 9, apenas mais uma nas estatísticas

3 comentários:

Jackie Freitas disse...

PD, meu querido amigo!
Muito sério e envolvente esse seu post! Quando pensamos nesse mundo cercado de hipocrisias, onde uma lei é criada para "protegerem" crianças das palmadas (e muitas são educativas, sim, eu penso!), nada se faz para proteger as crianças dos que abusam de sua inocência... Esse é o contraste das injustiças! Ah, mandam para abrigos, mas como você muito bem escreveu, qual é o preparo que se encontra neles? Profissionais uniformizados, cumprindo horários e esperando por um salário no final do mês? E o amor que não espera nada em troca a não ser um belo sorriso e o vigor de uma criança feliz? Em que tipo de abrigo se encontra?
É, meu amigo, infelizmente essas estatísticas só comprovam que o solo ainda está árido e que enquanto não chover mais amor, consciência e compaixão, boas sementes padecerão sem antes mesmo desabrocharem...
Muito triste... Espero que tudo isso mude um dia e que esses números mudem para um saldo mais positivo!
Grande beijo e parabéns pela bela exposição de consciência e humanidade!
Jackie

Jorge disse...

Um profundo e forte texto, meu Amigo.
Enquanto o homem for egoista e orgulhoso, usando da maldade, o mundo não vai melhorar. As leis só buscam minorar a irresponsabilidade do homem. Sem esquecer que, quem faz a lei, é o próprio homem.
O que falta ao ser humano é a consciência de sua responsabilidade ante a vida. Aí fica a pergunta: porque não se tem consciência?
Os que erram terrivelmente hoje, não foram vítimas no passado também?
Este texto nos faz repensar não só na questão da adoção e do abandono das crianças, mas da educação moral do homem, no seu todo.
Que este texto possa ser lido por muitos para a sua divulgação com uma forma de conscientizar quem, principalmente não pensa.

Meu amigo, obrigado por compartilhar seus pensamentos.

Parabéns!!

Um grande abraço!

ALUISIO CAVALCANTE JR disse...

Caro amigo

Penso que
deveríamos
reaprender
e novamente
ensinar
o sentido do
ser humano
em sua plenitude.

Amamos mal.
Cuidamos mal.
Assim muitas vidas
se perdem em nossas
vidas.

Que as estrelas
sempre brilhem em teu olhar.