quinta-feira, 29 de julho de 2010

Durante não será


Durante sempre teve uma vida maravilhosa!!

Um ótimo emprego. Valorizado na empresa.

Muito querido pelos amigos. E quantos amigos!

No casamento, felicidade plena.

Esposa maravilhosa, filhos lindos. Família perfeita.

Sua casa um sonho, como aquelas de revista.

Sempre foi o filho que toda mãe e pai desejam.

Amoroso, cuidadoso, responsável.

Para todos os ouvidos sempre teve a palavra certa,

No momento oportuno.

Ouvir reclamações dele? Jamais!

Sempre feliz e sorridente.

Um filho inigualável;

Um marido perfeito;

Um pai maravilhoso;

Um amigo companheiro;

Um profissional único.

Sempre assim para todos que usufruem de sua presença.

Pois é!!

A imagem exteriorizada nem sempre é representativa daquilo que se passa na alma.


Sem avisos ou lamúrias.

Apenas o ato.

Único, certeiro, sem volta.

E a corda no pescoço

Durante fez a escolha

Encerrou seu ciclo.

Stuka angyali

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Revelando fragmentos

Quando te encontras na base de um importante maciço montanhoso, estás longe de conhecer toda a sua diversidade, não tens nenhuma ideia das alturas que se ergueram por trás do seu cimo ou por trás daquele que te parece ser o cimo, não suspeitas nem o perigo dos abismos nem os confortáveis assentos ocultos entre os rochedos. É apenas se sobes e se persegues o teu caminho que se revelam pouco a pouco a teus olhos os segredos da montanha, alguns que esperavas, outros que te surpreendem, uns essenciais, outros insignificantes, tudo isso sempre e unicamente em função da direção que tomares; e nunca te revelarão todas.

O mesmo acontece quando te encontras diante de uma alma humana.


Aquilo que se te oferece ao primeiro olhar, por mais perto que estejas, está longe de ser a verdade e certamente nunca é toda a verdade. É apenas no decurso do caminho, quando os teus olhos se tornam mais penetrantes e nenhuma bruma perturba o teu olhar, que a natureza íntima dessa alma se revela a pouco a pouco e sempre por fragmentos. Aqui é a mesma coisa: à medida que te afastas da zona explorada, toda a diversidade que encontraste no caminho se esbate como um sonho, e quando te voltas uma última vez antes de te afastares, vês apenas de novo esse maciço que te surgia falsamente como muito simples, e esse cimo que não era o único que existia.

Apenas a direção é realidade; o objetivo é sempre ficção, mesmo quando alcançado - sobretudo neste caso.



Arthur Schnitzler - "Observação do Homem"