segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Legado de miséria

D. Cacilda é uma senhorinha octogenária, muito frágil e humilde, mãe de nove filhos.

Conseguiu, sob todas as dificuldades, torná-los homens e mulheres adultos.

E com sua sabedoria ensinou-lhes as coisas certas da vida e o que é bom ou ruim.

Seus filhos, todos casados, com suas ocupações e trabalhos, vivem correndo.

D. Cacilda tem também muitos netos, talvez mais de 30, dentre os quais muitos já adultos e até casados.

Mas, infelizmente, apesar dessa família tão numerosa de D.Cacilda, não escapa a senhorinha à solidão.

D. Cacilda já se faz viúva há alguns anos e vive solitária em sua casinha, a relembrar de seus longos e passados anos ao lado de seu amado e companheiro marido.

Sua modesta casa sempre foi o lar acolhedor para qualquer pessoa. E nunca houve quem ali não se sentisse confortado.

Mas a vida tem seu ciclo.

D.Cacilda, já tão frágil caiu doente, de cama, totalmente debilitada e dependente. Os anos pesaram em seus ombros já bastante arqueados.

Mas que bom, ela tem tantos filhos e netos que nesse momento não estará sozinha.

Será?

Mas onde estão seus tantos filhos e netos? Onde estavam durante todo esse tempo que não tinham, simplesmente não tinham, tempo para visitá-la?

Sobraram apenas duas filhas, as mais amorosas, e que cuidaram dos últimos dias da mãe, com o zelo que um filho deve aos pais.

D. Cacilda partiu. Deixou sua casinha na ausência de seus hábitos.

Agora, seus tantos filhos e netos, já livres de sua senil presença, disputam vorazmente a única rica lembrança que desejavam da velha, sua modesta casinha.

Dizem que só falta que rolem no chão, aos tapas, para decidir a divisão da modesta casinha.

Assim, D. Cacilda deixou seu legado de miséria.

Eis o ser humano, em sua ambição e individualismo desmedidos.

Em sua busca incessante pelos bens materiais, extrapola os limites do supérfluo, fomenta abismos entre riqueza e pobreza espiritual, passa a tratar outras vidas como qualquer coisa.

Esquece-se daquilo que deve valorizar.

9 comentários:

ValeriaC disse...

Triste fato amigo e muito mais comum do que gostaríamos que fosse...as pessoas se perdem na ganância e se esquecem do que realmente é importante...como a gratidão e o amor...
Tenha uma maravilhosa semana amigo!
Beijos...
Valéria

Rosana Madjarof disse...

Psiquismo,

A história da D. Cacilda é uma história do nosso coridiano, infelizmente.

Uma mãe é capaz de cuidar de 10 filhos, mas 10 filhos não são capazes de cuidar de uma mãe...

As pessoas, em sua ganância e ambição, brigam por muito pouco, sem se darem conta que o que mais conta é aquilo que não podemos vender, somente doar: o AMOR!

Adorei!

Bjs.

Rosana.

Jucifer disse...

ola´guri
infelizmente existem
muitas D.Cacilda espalhados neste
mundão de Deus,
é como diz o ditado
uma mãe cria 10 filhos ou mais se preciso, mas um filho naum cria uma mãe
é deprimente como muitos seres humanos dão tanto valor ao material
e esquecem sua essencia
é triste para uma mãe esta situação

bjim guri
maravilhoso post

BLOGZOOM disse...

As pessoas são miseráveis de sentimento, capazes sim de disputarem o nada, as lembranças sem as compreenderem. Eu já vi isso acontecer, fiquei pasma! Quantas pessoas envelhecem e vivem na solidão apesar de ter colocado no mundo filhos e netos! Ou as vezes, tambem já vi isso, o filho cuida da mãe doente até ela partir, porem cuida do sentido de pagar quem cuide e a presença mesmo se faz ausente.

Alma Aprendiz disse...

Que tristeza!!!!!!!

Fiquei triste por esses pobres coitados.
Mas infelizmente sabemos que isso é comum. Ainda bem que dona Cacilda não estava mais aqui pra assistir uma cena tão triste.
Beijos com muito carinho e muita LUZ.

Micael Araújo Andrade disse...

A humanidade sofre da miséria de amor!
Se tudo que mora em nosso interior fosse explicitado nos devoraríamos como bestas!

Insana disse...

Acho isto tao triste.

bjs
Insana

Jorge Alberto disse...

Muito tocante.

Abraços

Jorge disse...

Acredito na ignorância do homem. Sua cobiça, seus valores invertidos fazem parte do seu aprendizado. Um dia vai aprender, talvez pela dor, não sei, mas todos, indistintamente, irão ao Pai.

Meu grande amigo, um texto realmente para refletir nossas misérias morais

Um grande abraço!!!!