terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O que deseja o ser humano?


Uma donzela estava um da sentada à beira de um riacho deixando a água do riacho passar por entre os seus dedos muito brancos, quando sentiu o seu anel de diamante ser levado pelas águas. Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que fora assaltada por um homem no bosque e que ele arrancara o anel de diamante do seu dedo e a deixara desfalecida sobre um canteiro de margarida.
O pai e os irmãos da donzela foram atrás do assaltante e encontraram um homem dormindo no bosque, e o mataram, mas não encontraram o anel de diamante. E a donzela disse:
-- Agora me lembro, não era um homem, eram dois.
E o pai e os irmãos da donzela saíram atrás do segundo homem e o encontraram, e o mataram, mas ele também não tinha o anel. E a donzela disse:
-- Então está com o terceiro!
Pois se lembrava que havia um terceiro assaltante. E o pai e os irmãos da donzela saíram no encalço do terceiro assaltante, e o encontraram no bosque. Mas não o mataram, pois estavam fartos de sangue. E trouxeram o homem para a aldeia, e o revistaram e encontraram no seu bolso o anel de diamante da donzela, para espanto dela.
-- "Foi ele que assaltou a donzela, e arrancou o anel de seu dedo e a deixou desfalecida" - gritaram os aldeões, "Matem-no!"
-- "Esperem!", gritou o homem, no momento em que passavam a corda da forca pelo seu pescoço. "Eu não roubei o anel. Foi ela que me deu!"
E apontou para a donzela, diante do escândalo de todos.
O homem contou que estava sentado à beira do riacho, pescando, quando a donzela se aproximou dele e pediu um beijo. Ele deu o beijo. Depois a donzela tirara a roupa e pedira que ele a possuísse, pois queria saber o que era o amor. Mas como era um homem honrado, ele resistira, e dissera que a donzela devia ter paciência, pois conheceria o amor do marido no seu leito de núpcias. Então a donzela lhe oferecera o anel, dizendo "Já que meus encantos não o seduzem, este anel comprará o seu amor". E ele sucumbira, pois era pobre, e a necessidade é o algoz da honra.
Todos se viraram contra a donzela e gritaram: "Rameira! Impura! Diaba!", e exigiram seu sacrifício. E o próprio pai da donzela passou a forca para o seu pescoço.
Antes de morrer, a donzela disse para o pescador:
-- A sua mentira era maior que a minha. Eles mataram pela minha mentira e vão matar pela sua. Onde está, afinal, a verdade?
O pescador deu de ombros e disse:
-- A verdade é que eu achei o anel na barriga de um peixe. 
Mas quem acreditaria nisso? 
O pessoal quer violência e sexo, não histórias de pescador. 

Luís Fernando Veríssimo

3 comentários:

Jorge disse...

Meu amigo,
adoro Veríssimo.
E é verdade. A mentira é mais interessante porque gostamos de mentir. Quem quer a verdade? Só mesmo o pescador.

Grande amigo,
um abraço de amizade,
Jorge

franciete disse...

Que delicia de história, mas só que de tão real, ela daria uma linda história, não fosse ela tão verdadeira nos dias que correm, pois é meu querido, quem existirá neste planeta para acreditar nas verdades?
Pois só de hipocrisia e mentiras nos tem vindo alimentar.
Beijos de luz em seu coração

Vida*** disse...

Existem momentos que se petrificam e força nenhuma no mundo é capaz de resgatar!!Nossas ações muitas vezes são mal interpretadas!! Mas,o importante é sempre estarmos em Paz com nossa consciência. Tendo a certeza que podemos dar o melhor através de nossa dedicação e carinho para nossos irmãozinhos que tanto precisa de nós!!Tendo a esperança de um mundo mais justo e digno..para nossas crianças e jóvens. Transmitindo Amor,Esperança e Paz.