quarta-feira, 29 de abril de 2009

ESQUIZOFRENIA

“Mudos atalhos afora, na soturnidade de alta noite, eu e ela caminhávamos. Eu, no calabouço sinistro de uma dor absurda, como feras devorando entranhas, sentindo uma sensibilidade atroz morder-me, dilacerar-me. Ela, transfigurada por uma tremenda alienação, louca, rezando e soluçando baixinho rezas bárbaras. Eu e ela, ela e eu!- ambos alucinados, loucos, na sensação inédita de uma dor jamais experimentada.” (Cruz e Souza- Balada de Loucos*)
Quero falar um pouco sobre a Esquizofrenia, que é um distúrbio mental que acomete ao redor de 1% da população mundial, comprometendo a capacidade do indivíduo de se relacionar e produzir, tornando-o, muitas vezes, dependente de terceiros. Atinge em igual proporção homens e mulheres, manifestando-se, em geral, na adolescência ou início da idade adulta. O indivíduo pode viver em um “mundo particular”, fantasioso, sendo comum presença de delírios (crenças irreais não partilhadas por outras pessoas – exemplo: achar que está sendo perseguido, que é responsável pelas guerras do mundo) e alucinações (percepções irreais – ouvir, ver, saborear, cheirar e sentir), além do isolamento social, falta de iniciativa para tudo, apatia, indiferença emocional e, em alguns casos, o pensamento e o discurso desagregados (frases sem sentido). A pessoa pode afastar-se do convívio social por achar que outros querem lhe causar algum tipo de mal, e muitas vezes isso vem acompanhado de alucinações auditivas (vozes) que o difamam e confirmam as “más” intenções alheias. Pode também haver a sensação de que seus pensamentos ou sua vontade estão sendo controlados por uma “força inexplicável”. Muitas vezes, as pessoas que convivem (familiares) tentam, sem sucesso, explicar a esse indivíduo que os fatos não são reais, que fazem parte de sua imaginação, acabando por gerar conflitos e, por vezes, agressões, pois tudo que ele vive e experimenta no seu dia-a-dia é “muito real”.

Não é uma doença transmissível e, embora ainda sejam incertas suas causas, estudos sugerem a combinação de fatores genéticos aliados a fatores ambientais (teoria genética) e pessoais de alterações bioquímicas (teoria neurobiológica) intermediando o aparecimento e expressão da doença. Infelizmente, porém, o desconhecimento da sociedade acerca da doença gera situações embaraçosas e preconceituosas. Não são incomuns piadinhas denegrindo de forma sarcástica pessoas que sofrem desse distúrbio. Atualmente, felizmente, há medicamentos chamados antipsicóticos capazes de controlar ou reduzir os efeitos da doença, podendo o indivíduo ter um bom convívio familiar e social, sem motivos para vergonha, lembrando que essa doença não está associada a menos inteligência (basta cita o caso do matemático americano John Forbes Nash, que recebeu em 1994 o Prêmio Nobel de Economia e em 2001 teve biografia adaptada ao filme: “Uma Mente Brilhante”, que, aliás, vale conferir).



*Refere-se o poeta nesta balada a um episódio real que lhe aconteceu; ao voltar de um passeio com sua esposa, notou que ela subitamente estava enlouquecendo.

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